"Who will save your soul if you don't save your own?"
Os anteriores.
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"Say a prayer for me Remember I breathe, I breathe Grown up twisted in A place you can't see, can't see"
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Sempre que caia a noite e ele chegava, sempre antes de cair a noite ele passava por lá e então trancava a noite do lado de fora. Até que certa vez ele não veio e a janela permaneceu aberta. Claro que ela poderia abri-la e secretamente o fazia quando ele adormecia, então quando ele se encolhia com o frio - embora ela se aquecesse com as estrelas a brilhar - ela fechava a janela rapidamente, sem ruido, e voltava para aquecê-lo. Não entendia porque ele achava que a noite a faria mal. Mas naquele entardecer em que ele não apareceu ela viu o sol se por e sentiu o calafrio ao perceber o céu vermelho e não pode sentir o calor das estrelas. Não havia núvens e não havia lua. Onde estava a amada lua? Ela olhava para o céu aficcionada, milhares, milhões de estrelas, aos poucos se apagavam e o céu ficou cor-de-rosa, mas não eram as rosas vermelhas que ela tinha em seu jardim, eram rosas rosadas, e então ela olhou para baixo...
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Já havia se passado algumas horas e ele adormecera no carro. Jamais imaginaria que poderia adormecer naquele lugar, tamanho era seu desespero em sair dali, mas a ansiedade o diexou cansado e o cansaço de anos se abateu sobre ele e o adormeceu. Ao despertar ele percebe que está apenas no acostamento, um pouco mais afastado do acostamento na verdade, as luzes apressadas dos outros veículos passando por ele na auto estrada o deixou tonto. Teria sonhado ao volante e imaginado toda aquela situação desesperadora? Resolveu sair do carro para esticar as pernas e aliviar a tensão da bexiga. Ao apoiar os pés no chão ao lado do veículo percebe que está quase chegando a seu destino. O coração salta ao peito do homem que sempre pareceu frio, intimista apenas consigo mesmo, estaria chegando ao fim daqueal jornada que seria apenas o início de outra. Imaginou as infinitas barreiras que o aguardaria a pardir dali. Afastou-se do veículo e aproximou-se da pobre mata que havia na serra. Lá embaixo podia ver o oceano acabar em praia e lavar gentilmente a areia próxima a uma cidadezinha. Ao longe havia um pier e poucos navios, nenhum deles aparentavam ser usados como ele imaginava, para grandes aventuras; apenas alguns navios pesqueiros, provavelmente a subsistência dos moradores daquela cidade que também não parecia se estender muito mais depois da praia.
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Ele estava perdido em pensamentos, olhando para a tela do computador. "Só mais essa linha, só mais essa cor, ainda não está perfeito, ainda não está pronto". Foi despertado de seu sonho lúcido por um grito alegre vindo do lado de fora da porta. Levantou-se e pensou em ir até a porta, foi então que olhou a janela e viu que a noite já havia caído. Percebeu as horas e desesperou-se por alguns instantes, milésimos de segundos até conformar-se de que estava fazendo algo que nunca fez: atrasou. Sentiu pesar e tentou imaginar o que ela estaria fazendo ou pensando. Lembrou de seu calor, de seu sorriso sempre amigável, sentiu-se triste mais uma vez por mantê-la sempre lá, sempre ao seu lado, sempre ao lado daqueles que a amavam. Pensou em deixar ela partir. Decidiu que mudaria tudo naquela noite. Não voltaria para a casa antes do próximo entardecer. Seria a noite mais longa de sua vida e o dia mais aterrador, mas sabia que era necessário fazer aquilo. Respirou fundo ao voltar a sentar na frente da tela brilhante e fria do computador.
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- Você não vem?
Silêncio do outro lado.
- Você pode me ouvir? Aconteceu algo?
Uma preocupação crescente na voz do outro lado da linha manteve o silêncio de sua resposta.
- Por favor, se pode me ouvir me responda, deixe-me ouvir sua voz!
- Essa noite não.
Finalmente uma resposta. Mas a voz soava distante. Poderia ser por causa do telefone, o sinal poderia estar fraco...
- Você está bem, pelo men...
- Essa noite não.
E o silêncio ficou eterno para aquela conversa. Os interlocutores da curta conversa olhavam para seus celulares enquanto a ligação se desfazia. Parecia tão simples olhando dessa maneira. "Você não vem?" "Essa noite não." então seria essa noite. A noite do medo. A noite dos desejos. A noite do não-arrepender-se.
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Sua mente viajava mais rápido que o carro, por mais que ele expremesse o acelerador, o limite da auto-estrada fazia o volante tremer, ele achou que o carro fosse desmontar "antes ele do que eu, se continuar com isso quem desmoronará serei eu". Abriu a janela e jogou fora os mapas, jogou fora as cartas recebidas e as respostas nunca enviadas, jogou a antena extra eu ficou pendurada pelo fio, presa ao telefone, havia mensagens não lidas que ele não havia percebido antes. Apressou-se em desconectar a antena e deixou o celular cair no chão do passageiro. Vazio. Olhou a estrada e desviou por pouco de uma motocicleta que vinha na direção oposta. Ouviu a buzina e voltou para o seu lado da pista. Aquilo estava indo longe demais dentro da sua cabeça. Parou no primeiro motel na beira da estrada e pagou a pernoite. Ficaria lá por enquanto. Não poderia voltar, tudo estava perdido; não poderia prosseguir até colocar seus olhos em ordem. Pela primeira vez em anos chorou por tudo aquilo.
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Recostada na janela, seus olhos se fecharam e sua respiração amenizou. Ele não viria e ela sabia porque. Ela não queria saber, mas sabia. Teve um breve sonho e foi despertada por um som incomum. Sobressaltou-se e espantou-se com o frio que sentia, o vento vinha da janela do lado de fora. E pela primeira vez ela olhou para baixo, para seu lindo jardim, e a noite revelou apenas telhados das casas abaixo, algumas ruas do subúrbio onde morava, suas estrelas eram janelas de prédios mais altos, ao longe. Ficou observando algumas sombras dançarem numa janela de um quarto mais próximo, ruborizou-se. Ela se apressou em fechar a janela e jogou-se na cama aos soluços. Acabara de acordar de um longo sonho de uma vida inteira.
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"I can see That you and me Live our lives in the pouring rain And the raindrops beat out of time to our refrain And you and me Will win you'll see People die in their living rooms But they do not need this God almighty gloom There's something warm about the rain There's something warm There's something warm There's something warm in everything I know there's something good About you about you I know there's something warm There's something warm Good about you"
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