Who will save yout soul if you don't save your own
E ela continuava a vaguear pelo vasto jardim, procurando os portões que pareciam tão perto e tão fácil de achar quando ela olhava pela janela daquele quarto. Sentiu o impulso de esconder-se a se confundir com o ímpeto de olhar para trás. E olhando assim, do lado de fora, por entre as folhagens, a casa que para ela antes era o mundo todo, enorme, parecia tão pequena.
Tentou pensar como ele, sobre o amor que ele sentia por ela e que a manteve cativa, concluiu que deixou-se levar pelas fantasias de paraíso de suas próprias histórias. A lua brilhava linda no céu, acompanhada das estrelas. Indagou-se do que seria da noite não fosse o sol a refletir na lua.
Abaixou para observar o lago mais de perto, sabia que estava no meio do caminho, pois o pequeno lago ficava bem no meio do jardim; haviam alguns bancos de balanço para o descanso e reflexão. Será que ele ficava lá às vezes? Será que ele algum dia aproveitou aquele lindo jardim? Pois ela o fazia agora
Ao sentar-se o banco rangeu. Não, ninguém o usava há um bom tempo. Olhou novamente o lago tranquilo e percebeu a lua refletida nele, parecia bem maior e tangível àquela distância. Suspirou antes de continuar a caminhada; foi então que sentiu o cansaço e ouviu o ranger dos portões - abrindo ou fechando? não soube distinguir -, estava hipnotizada pelo luar refletido no lago, ficou lá até adormecer.
Não parecia assim mais tão necessário escapar dali. Queria apreciar o momento, aproveitar o que tinha e lhe era oferecido porém jamais usava. Viu o reflexo da lua ir embora e olhou para o céu alaranjado do amanhecer. Encolheu-se no banco e adormeceu, esquecendo-se de tudo o que havia passado por sua mente. Apenas o sentimento, triste solidão bucólica no jardim...
---
Ele andava pelo quarto vazio naquela noite, com o envelope nas mãos, rodando-o inconscientemente, não tinha encontrado coragem de abrí-lo, o cheiro dela estava em todo lugar, mas ela não estava. Ele sabia que esse dia chegaria, mas não se atrevera em preparar-se para aquele difícil momento. Não se aproximou da janela, cortinas fechadas. Sentou-se na cama para relembrar os momentos juntos dela, fechou os olhos mas não se permitia chorar; sabia muito bem que fora ele quem criara as circunstâncias que chegaram a isso. Se ao menos tivesse coragem de ler o que havia escrito dentro daquele envelope, com sua caligrafia enfeitada, um selo perfeito vedava as palavras dela, tão perfeito que ao sentí-lo no toque suave de seus dedos, deisou-se cair deitado na cama a devanear sobre o que poderia ter lá dentro. Apenas papel dobrado com letras escritas... Não se atrevia a mais. E assim, sonhando acordado com o passado adormeceu e começou a sonhar.